Foto da pintura: Dimitris Vetsikas/Pixabay
A impactante narrativa da ressurreição de Lázaro (Jo 11,1-45) nos permite conhecer melhor o poder de Jesus sobre a morte. Com a Páscoa, acontece a “abertura das sepulturas”, a saída de um cárcere à liberdade, da vida reprimida à fecundidade do sentido. Assim, como Jesus se compadece pela morte do amigo, também olha para a multidão carente de amor. Ao trazer o morto à luz, revela o Pai, a essência da criação. Deus é vida e a morte é saudável para renascer, pois, se a semente não morre, não produz nada. Passar pela sepultura é entrar no casulo das possibilidades. Assim, nem toda escuridão é má, mas é neste estágio íntimo que a natureza cresce. Nas noites escuras da fé é que se prova o mel da paz. Depende de cada um a compreensão do mistério.
Toda espécie de morte é uma ruptura com sistemas politicamente corretos, com as expectativas e os projetos construídos sem base sólida. Temos medo da morte porque a vida não é bem integrada. Cada vez mais, está mergulhada no desespero e na incerteza. Fugimos das respostas sobre o que é a vida e o que é morte. Aliás, a falta de questionamento sobre duas realidades tão reais é o sintoma de uma sociedade doente que finge sublimação e no entanto, cava sua própria sepultura como fim do sofrimento.
Jesus é a Páscoa, a ressurreição, a vida sem rodeios. Traz Lázaro para fora com a intenção de destruir a chave farisaica perversa que reduz a existência apenas a leis medíocres e escrupulosas. Faz as pessoas enxergarem que nada pode aprisiona-las em suas covas. Nos traz à luz para agradarmos a Deus por meio do Espírito que nos vivifica e alimenta a nossa esperança. O cristão precisa sair de sua sepultura cheia de indiferença, desamor, preconceito, intolerância, julgamentos para ter vida nova. Jesus chama, mas a saída passa pela conversão que não é um ato mágico, e sim fruto de uma consciência que anseia por Deus. Temos a escolha de permanecer no túmulo ou rolar a pedra e entrar no jardim da alegria com Cristo. O Senhor desata nossa incapacidade e gera habilidades a serem colocadas a serviço da vida. Caminhemos, fervorosos pelo Evangelho.
Paz e bênçãos!
Pe. Nilton Cesar Boni, cmf
Missionário Claretiano, sacerdote, formador do Filosofado Claretiano em Belo Horizonte/MG